sábado, 19 de dezembro de 2009

Ladrão de sonhos


Ela estava certa que o mundo obedecera suas virtudes.
Contava com a razão e a razão queimava como se fosse carvão.
Suas cores tinham luz em infinito e obedeciam suas regras.
Ela criava como um Deus, mas precisava de pão.
Ela mudava o fósforo, as cores, o tempo, as horas, os nervos.
Só não acreditava em sonhos.
Até que um dia precisou da noite e a noite não respondeu.
Precisou do dia, o sol o derretia e ele jamais respondeu.
Ela então voltou a chorar, caiu no colo da noite e dormiu.
Sonhou como uma criança, brincou parecendo dança, beijou sem quere dizer, rio sem querer parir.
Pela primeira vez quis viver sem procurar entender.
Quando acordou preferiu ser mulher.
O tempo lhe roubara a razão.
Mas ela não acreditou e passou a vida inteira
pensando não acreditar em sonhos.

César Félix

Para Alessandra Gramkow

Foto: Clara Figueredo

Um comentário:

  1. Puxa que orgulho ser sua amiga Cesar Augusto simplesmente maravilhosa

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