quarta-feira, 1 de abril de 2009

Memória do Movimento Estudantil

Movimento Estudantil

Quando tua língua sente o
cheiro do meu suor,
quando nos teus movimentos
eu começo a suar,
quando em nossa dança
ritimamos a mesma melodia,
bailamos os mesmos sonhos,
criticamos a mesma sociedade,
chegamos ao comum acordo:
Temos que gozar de novo.

César Félix


Participei ativamente de 4 gestões do DCE da UFSC (Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina) :

1997 - Gestão "Fazendo Acontecer", eu estava entrando na universidade, era meu primeiro semestre no curso de história da UFSC, não fazia parte da diretoria, mas participei de toda a gestão, comecei trabalhando com o bolsista, logo depois fui indicado pelo DCE para representar os estudantes no Conselho de Curadores da UFSC e quando me dei conta estava mais envolvido na gestão que muitos dos diretores. A gestão não terminou bem, a diretoria estava dividida e dividiu o movimento estudantil. Mesmo assim algumas atividades marcaram a gestão: realização do calourarte, publicação do Canudo (Jonal do DCE), luta contra o aumento do preço do passe do RU, organização e criação da Rádio comunitária 102.9 e organização do estágio de vivencia nos assentamentos do MST. A divisão trouxe consequencias: A reitoria organizou uma chapa com estudantes da chamada "direita" para disputar as eleições para a diretoria do DCE, eles estavam unificados e nós divididos. perdemos a eleição e ficamos todo o ano de 1998 fora do DCE.

Sala dos Conselhos da UFSC, reunião do Conselho de Curadores no ano de 1997. 1º fila Eu(Cesinha, camisa branca, estudante de História e representante estudantil no conselho) e Alexandre Santos (Direito); 2º fila da esquerda para Direita: Fábio e Diego (Estudantes de fisica) e Yuri Fujita (Ciencias Sociais); 3º fila Eliane Soares e Aryna Eugenia (Ciências Sociais), Rosangela (Rô) Educação Física e Sérgio (Geografia). Lá atrás ainda podemos ver o Didi (Geografia- camisa branca e no fundão o Luiz da História.

1999 - Gestão "pra não deixar privatizar"

Essa foi uma das mais belas experiencias que participei no movimento estudantil, conseguimos organizar uma chapa com mais de 100 estudantes, divididos em mais de 20 cursos. Estava presente nesta gestão todos os grupos e tendencias do chamado campo da "esquerda" da UFSC: PSTU, Pc do B, PT, Corrente Comunista Luis Carlos Prestes, Movimeto Graúna, Movimento dos estudantes preocupados com a Universidade, Grupo de ação política Florestan Fernandes e mais alguns que eu nem mais lembro o nome. Lembro que conseguimos toda essa união porque participamos conjuntamente de uma das mais fotes greves das universidades brasileiras, a greve de 1998. A prática da greve nos uniu e o desejo de tirar a direita do DCE nos alimentou. Vencemos uma eleição disputadissima. A reitoria havia organizado através do Pida, funcionário da UFSC e dono de um bar que fica ao lado da universidade uma chapa da chamada "direita" estudantil na UFSC. Foram dois dias de eleições e mais de 5 mil votantes. Vencemos bem, foi uma grande festa, estudantes tiraram a roupa e correram pelados pelo hall da reitoria comemorando a vitória. Durante o ano, recriamos a rádio, reorganizamos a representação estudantil no conselho universitário, organizamos outro estágio de vivencia, revitalizamos o Jornal "Canudo" do DCE, o Calourarte, as festas e os jogos estudantis. Porém, no segundo semestre nos dividimos. Veio a eleição para reitor, cada tendencia ou grupo optou por um candidato diferente: Estudantes ligados ao PT e PSTU e grande parte dos independentes optaram pelo apoio ao candidato Nildo Ouriques; estudantes ligados ao PC do B preferiram apoiar o professor Dilvo Ristoff e os estudantes ligados a corrente comunista Luis Carlos Prestes optaram por um voto que eles chamaram de "voto contra Rodolfo" o candidato da situação, porém nunca soubemos em quem eles votaram, fato é que a gestão terminou dividida.

Reunião no interior do DCE - Luis Travassos UFSC - ano 2000.
Gestão: "pra não privatizar" - Ano 2000
Políticamente, essa gestão deu continuidade a luta que já desenvolviamos na gestão anterior.
A diferença desta gestão é que não estavam presentes na diretoria, estudantes ligados a corrente comunista Luiz Carlos prestes e estudantes ligados ao PC do B. Era uma gestão composta por estudantes independentes, Estudantes ligados ao PSTU e estudantes Ligados ao PT. A divisão foi motivada e estabelecida devido aos apoios e escolhas dos mesmos nas eleições para reitor.

2001 - Gestão "Faça você também"

Essa gestão foi para mim, uma experiencia diferente. Optamos por montar uma chapa e disputar as eleições para o DCE somente com estudantes "independentes" de grupos e de partidos. Ganhamos fácil a eleição, mas fizemos uma gestão bem difícil. Ampliamos a pauta de luta do movimeto estudantil e conseguimos o apoio de milhares de estudantes, na nova pauta incluimos arte, gestão ambiental e luta por democracia na UFSC e no Movimento Estudantil. Sofremos por isso, parte da chamada esquerda "esquerda" indignada por termos excluido os partidos e grupos de nossa chapa, nos chamavam de anarquistas, outra parte nos tratava como se fossemos de direita. A cada sindicato que chegavamos e pediamos apoio, este era negado devido a desconfiança, os partidos politicos bradavam a todos os movimentos sociais que éramos de direita. Pelo lado da reitoria o ataque vinha de outra forma, cortaram a cota de financiamento do DCE, oriundo da taxa de matrícula. O boicote a nossa gestão foi generalizado. Conseguimos colocar a direita e a esquerda contra a gente. Nunca deixamos de lutar na defesa dos direitos dos estudantes, nunca deixamos de lutar por uma universidade pública gratuita e de qualidade, nunca dissemos não aos movimentos sociais. Porém éramos castigados por não ter pedido permissão aos partidos para montar uma chapa para disputar as eleições para o DCE. Nesta gestão criamos o cine DCE, no auditório do convivencia, implementamos mais de trinta oficinas de arte no interior do DCE, mativemos o jornal "Canudo", mantivemos nossa presença no Conselho Universitário sempre defendendo o direito dos estudantes, realizamos a semana da Soberania Nacional - uma semana de conferencias, debates, oficinas e apresentações artísticas sobre o tema-, criamos a rádio varanda e aumentamos o número de festas do DCE ( afinal era de onde tiravamos os recursos). aí veio mais uma greve e mais uma vez nos dividimos. Essa gestão acabou dividida e traumatizada, tanto que vários dos componentes se recusaram a participar de uma nova gestão. Acordavamos alí para a seguinte verdade: na universidade não se lutava para mudar o mundo, mas para dirigir o poder do mundo. O que importava era o poder e não a mudança.

2 comentários:

  1. ...o jornal da "Faca Voce Tambem" nao era o ComunicArte?
    :o)

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  2. fala Cesinha,

    linda esta história. Acompanhei ela no 2o semestre de 1999. Minha primeira reunião do mov. estudantil foi o dia do racha na BU. Lembro que o clima era tenso, muito tenso. E quando pediram pra sair, lembro que como eu não sabia o que estava acontecendo saí com os prestistas e com ele fiquei por 1 ano (página em branco da minha história).
    Da nossa gestão, Fç Vc Tb, surgiu a pedra fundamental da rádio de Tróia, inclusive optando pela não ligação com o DCE como queria o grupo inicial anárquico. Concordamos, provando que estávamos na busca da transformação real e não do poder.

    abraço

    Henrique


    lembra da faixa do Bob marley no dia da livre expressão? faixa minha, ideía tua. Foi ótimo!!

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