domingo, 10 de maio de 2009

nem Luxo nem Lixo

Poesia de bolso
O poeta caminhava apressado para verificar o auditório em que lançaria seu livro. César Felix é um artista do cotidiano. Seu novo livro é pequeno e cabe no bolso. A justificativa é que quando for preciso sacar uma arma, seria melhor que tirassemos do bolso um livro de poesias.
Cesinha, como é conhecido, nasceu no Acre e veio para Florianópolis há 12 anos. Aqui cursou História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e viveu grande parte das experiências que são contadas nos seus poemas. Ele foi presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), trabalho com o Movimento dos Sem Terra (MST), desenvolveu um projeto educacional para crianças e adolescentes na comunidade Chico Mendes e coordenou um trabalho com os índios do Morro do Cavalo.
Em 2001, Cesinha era professor da rede pública de ensino. Cansado da precarização do sistema educacional e dos baixos salários decidiu optar de vez pela poesia. “Se era para ganhar pouco como eu estava ganhando, melhor seria viver do que realmente eu mais gostava”, explica. Desde o início o poeta sempre pensou em juntar as artes. O primeiro show ocorreu no bar Drakkar, num projeto que ele havia criado, o Caldo Cultural. A idéia de unir música e poemas continuou em Noite de Poesia com Jaime Santos. “Uma coisa da qual me orgulho muito é de hoje ser respeitado pela minha obra. No começo eu era convidado para declamar com os músicos, porque eles eram meus amigos. Eu sempre apresentei os músicos para muita gente, aí eles retribuíam. Hoje não é mais assim”.
Enquanto checava alguns detalhes antes do show, César Félix pedia para o funcionário do auditório o empréstimo de dois pedestais, que foram negados. O artista dirigiu se então ao responsável pelos equipamentos: “Barbosa, é só hoje e são apenas dois pedestais, te devolvo amanhã sem nenhum tipo de problema. A sala de Centro de Eventos tá cheia de pedestais parados.” O administrador pensa um pouco. “Cesinha, pela tua história comigo eu deveria era bater com esses pedestais na tua cabeça, mas tudo bem, leva dessa vez”. O poeta desce as escadas lembrando que isso sempre acontece. É uma conta que paga por toda atuação políticadurante o período em que atuou como presidente do DCE. O artista complementa também, que esse ser político não morreu, apenas mudou. Agora ele faz política nas suas escolhas.
César Félix sempre se apresentou com músicos, mas nunca quis estudar música. Não pretende criar canções, “Meu negócio é a fala, sempre fui orador”. Cesinha atuou com mais oito músicos no grupo Margem Esquerda, com elels viajou no ano de 2008 pela Espanha mostrando os poemas de Cesinha e a música de vários compositores brasileiros, entre os músicos que já dividiram o palco com Cesinha estão: Paola Gibram (acordeon), Bernardo Sens e Marina Beraldo Bastos (flauta), Raphael Galcer e Rafael Buti (violão), Fred Malverde (cello), Oswaldo Pomar e Eduardo Vidili (percussão), Maria Beraldo Bastos (clarineta) e Luciana Alves.
Em Florianópolis, o acreano diz que encontrou o melhor lugar do mundo para criar. Mas em termos de dividir esse trabalho com o público as dificuldades são imensas. “A cidade é pequena, o giro econômico não é voltado para as artes, a Lei de Incentivo a Cultura do estado ainda é muito pouco e principalmente não existe uma formação nas escolas para que as crianças reconheçam os produtos culturais. Me diz onde fica a casa do Cruz e Souza – grande poeta catarinense? Onde ele andava ? Onde ele declamava? Não existe, ninguém sabe”.

Graziele Frederico

fonte: texto publicado no blog nem luxo nem lixo
http://nemlixo-nemluxo.blogspot.com/2008_06_01_archive.html

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